Naquele segundo era um foda-se do tamanho do Universo. Era um “ei, mundo, pode morrer à vontade” gigante, o maior do mundo. Ela só queria ir adiante sem tanto peso para carregar, sem tanta coisa para lembrar enquanto tentava esquecer que o mundo gira e sem parar. No meio da pilha de roupa para lavar, uma história esquecida. E dentro da geladeira, uma congelada. Era dane-se tudo, era utópico, era E.T. Naquela utopia a única verdade de tudo era a vontade tão grande quanto o foda-se.
Água quente cura. Noite de sono acalma. Rivotril 5 miligramas relaxa, mas não distrai. Distrair é uma federal. Era ilusão de Mr. M, brincadeira idiota daquelas que a gente só acredita quando é feto. Naquele segundo era banho de jato bem forte para passar aquela coisa dura que era ficar vazia só para poder ser artista e ter que me desculpar por isso. Mesmo que o vazio fosse raro, que o amor fosse imenso, mesmo que a paixão resistisse, mesmo que o relógio fosse auto didata. Era tempo nublado. Garoa chata. Que nem dá charme, nem dá folga. No máximo azia e vontade de chorar.
Era só naquele segundo o enorme colo do mundo. O mais quentinho, o mais gostoso. Era só ali, que não dava mais para fugir de tudo em direção ao nada. Era só um monte de vontade que não tinha por onde, nem para onde, nem razão de ser. Era só um braço que parecia ser o abraço mais seguro e blindado da face da Terra. Mais uma velinha no bolo, só mais um carinho no coração. Era só uma energia e outra e outra fragilidade, para não ter que ser forte e ideal o tempo inteiro.
Era um foda-se do tamanho do coração de Deus, da confusão do humano. Era só a casa dela, mesmo com a cozinha fria, mesmo com a cortina meio empoeirada apesar de tanto choro. Era só ali, num casulo, onde talvez alguma lembrança de bem cedo levasse a angustia de querer o mundo e ganhar o bairro. Só ali, só daquele jeito. Só com aquelas pessoas. Só naquelas horas, só naquela ausência de repertório, que ela podia ser a mulher mais feia e a mais bonita do mundo.
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