25 de mar. de 2010

O namorado da amiga.

Eu me lembro que ele estava sentado na poltrona rosa da esquerda. Ao lado de uma mesa de mármore que era mais pesada que todas as minhas culpas empilhadas e soterradas embaixo de coisas que não podiam ser. Eu estava no sofá do lado oposto da sala. Ele era creme e de dois lugares somente. Eu tentei sempre me manter o mais longe que pude, mesmo que longe fosse ele estar na poltrona e eu no sofá. Do lado dele eu não fumava porque ele nunca admitiu. Já eram quase cinco da manhã.


Ele falou tanto dela aquela noite. Com todas as dúvidas de um pseudo adulto sábio, mas também inseguro e com uma vida cheia de possibilidades berrando lá fora. E lá fora não podia estar ela, porque lá fora era singular. Eu me lembro do amor com que ele falava dela, com o carinho nos movimentos delicados da mão que sempre pontuaram um charme arrasador. E me lembro dela descrevendo o beijo molhado dele e lendo os cartões que ele mandava com as flores que eram lugar comum na relação deles.   
Mas aí o que era doce acabou-se como o suspiro dos que morrem dignamente.
E eu me lembro de ter tentado com todas as minhas forças convencê-lo de que ela era para ele. E ele para ela e eles para eles. E que aquela história impecável e quase intocável era a morte por inveja de 99% das mulheres do cosmo. E lembro do quanto ela chorou de dor. Ela era tão incrível, tão companheira, tão cheia de um futuro brilhante. E eles dois juntos eram tão Brad e Angelina que não dava para vislumbrar algo que não fosse os dois brincando de bengaladas uma semana antes de morrerem de mãos dadas. 

Eu me lembro que naquela madrugada ele me perguntou mil coisas existenciais. E eu quis responder na lata, na nua e na crua como diria meu porteiro. Mas eu não fiz isso. Não fiz porque o único jeito de ficar longe dele era ele continuar sendo namorado da minha amiga. 
  




5 Comentários:

caroline disse...

Belo texto!

beijo
carol

25 de março de 2010 às 14:42
ana clara disse...

Seus textos são muito gostosos de ler. E quem nunca teve um olho de carinho para o namorado de uma amiga, não é mesmo?

beijos
Ana Clara.

25 de março de 2010 às 16:33
Unknown disse...

Lindo Tati!

Seus textos são muito vivos e verdadeiros. Eu vejo todas as cenas, com suas nuances e sentimentos, passarem que nem um curta aqui na minha cabeça, enquanto leio!

Adorei!

25 de março de 2010 às 17:25
Anônimo disse...

Nossa! Senti como se eu fosse a garota com o namorado da amiga. Seu texto é muito vivo. Adorei.


Bianca Briones

25 de março de 2010 às 22:10
SALOMA disse...

Trocando o sexo dos personagens, não está longe situação senão igual, parecida foi!!! Gostei do texto, leve e bem "intencionado"

16 de abril de 2010 às 16:03