28 de jul. de 2009

Uma música de amor.

Não, eu não vou escrever uma linda canção de amor para você. Eu juro que não, você pode me amar, se apaixonar, me querer, me pedir que eu juro. Eu nunca vou escrever uma canção de amor para você. Se esse é seu medo relaxe. Goze superficialmente para não termos que casar e construir uma família obrigatoriamente feliz. Você pode dormir aqui quantas noites forem necessárias para saber o quanto meu calor mexe com você, o quanto eu achava que você queria junto comigo ir longe muito longe e o quanto fomos estúpidos por não ter sabido fazer diferente do que fizemos. Não, eu nunca vou escrever uma canção de amor para você porque as coisas não rimam e não se encaixam. Como nunca se encaixaram apesar das minhas tentativas em bancar a fodida bem resolvida que podia quase tudo enquanto você ficava lá, bancando o playboyzinho classe média alta, blasé-feliz e sarcástico enquanto o circo pegava fogo com todos os palhaços lá dentro e minha carne torrava nas chamas insuportáveis do ar quente que sai dessa sua boca que me tira o chão. Não se preocupe que música sem rima não é música. E tesão sem realização é nada. É porra nenhuma no melhor sentido da frase. Porra nenhuma, zero espermatozóide. Não se preocupe. Eu nunca vou escrever uma música falando do absolutamente nada porque não quero que as pessoas descubram que formávamos uma dupla de porra nenhuma cheios de uma censura pudica que não combinava com a gente. Uma dupla que nunca realizou nada junto a não ser duas ou três piadas e três ou quatro encarnações de vida desprezada e arrepios contínuos jogados no ralo nojento do banheiro de motel de quinta. Porque é isso que somos juntos: nada. Um monte de tentativas incertas com resultados nulos. E eu, meu amor, nunca vou escrever uma música para as pessoas saberem que hoje sou uma meia mulher, com um pedaço da minha feminilidade amputado só porque você nunca estourou aquela porta e nunca teve coragem de cagar pro mundo durante uns minutos ao meu lado enquanto dizia milhares de baixarias no meu ouvido. É isso que fomos: frágeis e fingidos. Você e eu. Mas eu te perdoo. Afinal, fomos um monte de nada e nada não dá música. Então goze irresponsavelmente como um moleque de 15 anos brigando com seus hormônios no mictório do colégio particular.

Eu nunca vou escrever uma música e ter que assumir que durante 2 longos anos te procurei escamoteado em multidões que era para ver se tinha sorte de esbarrar em você num lugar onde fossemos nada no meio de muitos. Eu nunca vou assumir publicamente quantas noites tive ódio de você e o quanto quis que seu castigo fosse ficar de pau mole por umas 8 vidas sem direito nem a uma punheta. Eu juro que isso não dá música. Eu nunca vou dizer por aí que tudo que sentia dava música mas não dava liga por que você foi como um tufão que passou, arrasou tudo e foi embora como se não soubesse que eu tava ali sentada, agonizando de vontade de você, suplicando por cada centímetro dessa sua geografia profunda e perfeita que habitou meus sonhos. Se música rimasse com suplica quem sabe. Não se preocupe, nossa imagem decadente fica aqui como nosso segredo bem guardado embaixo da cama onde nunca tivemos coragem de subir e ficar até que o mundo acabasse e que a gente morresse ali, felizes e quietos depois de todas as coisas. O caminho que escolhemos foi o mais fácil e fácil rima somente com frágil. Não se preocupe, música se escreve na hora da inspiração. Tá bom, a inspiração não passou. Porque sempre que você volta mesmo distante, eu cago minha inteligência, os poros se abrem, os pêlos levantam, o ossinho da nuca endurece, as pupilas dilatam e a vida toma outro rumo. O rumo proibido, o rumo desacertado. O rumo que eu não quero tomar. E só de raiva de você nunca ter me jogado na parede, seu filho da puta é que eu nunca, nunca vou escrever uma música de amor para você.

1 Comentários:

Unknown disse...

Pode até ser que você não escreva nenhuma música, que quando ele chega a inspiração vai embora, vem o arrepio, a dilatação dasa pupilas e tudo mais, mas cá para nós, tudo o que você faz é música para ele...
Beijos Titia

28 de julho de 2009 às 18:00