7 de ago. de 2009

Felicidade irritante.

Estátua!!! Meu corpo arrepiou e vi um filme passar na minha cabeça. Um filme de terror misturado com ficção científica e comédia romântica bem melosa daquelas que a gente, depois de ver, quer casar com o mocinho do filme. Mas mocinhos de filmes não existem e eu chorei. Chorei só mais um choro para minha coleção de lágrimas que guardo numa garrafa de vidro velha. Além da coleção de lágrimas, também faço coleção de traumas e de rolhas de vinho.
Eu gelei de verdade, de sentir aquela corrente maluca e fervente da espinha até a nuca. Arrepiou até o couro cabeludo, sorte que o cabelo estava lavado porque senão ia escorrer óleo junto com o líquido saboroso e quentinho do arrepio. Eu gelei, vi o filme e pensei por dois instantes que podia ser feliz. Mas eu nasci com aquela merda de vocação para sofrer e para sentir demais e para ser mal humorada até que ninguém me suporte mais. Então precisei de mais uns 3 ou 4 instantes para ter certeza de que queria e podia ser feliz e que a plenitude tinha tocado a minha campainha já meio afônica depois de tantas histórias interrompidas pelo tal do destino ou porque eu as expulsava como vermes nojentos com pânico de ser feliz e gostar de ser feliz. Eu até hoje não tenho uma opinião formada para o destino, acreditam? Pois é. Não tenho opinião sobre ele e faço coleção de lágrimas, traumas e rolhas. Depois dos 8 instantes pensando, resolvi que queria ser feliz mesmo com as minhas vocações infernais para tudo que não é positivo, para tudo que escorre, para tudo que nunca passa e para tudo que corrói. Abracei a felicidade como uma criança abraça seu urso de pelúcia. Eu também já tive coleção de ursos de pelúcias mas deixei-a em algum lugar que não lembro qual foi, assim que minha infantilidade escorreu ralo abaixo junto com meu esfoliante corporal.

Como é difícil sofrer como eu sofro e como é difícil não ter ursos para abraçar e me sentir segura nessa carência tão grande quanto meu medo de montanha russa. Então eu larguei os ursos e abracei a felicidade e descobri nela um confortável colo de avó com gosto de algodão doce cor de rosa, vendido pelo tio velho, cansado e de bigode na porta do parque de diversões. Aquele gelo morreu depois do abraço porque a corrente do abraço era quente demais e gelo derrete fácil demais.
A felicidade abriu seus grandes e fortes braços e me aconcheguei na posição fetal que sempre me faz mas segura e menos trêmula. E aquela felicidade me agarrou, me fez sorrir contra minha vontade porque eu tenho vocação para chorar e me mostrou que sim, que é possível ser feliz mesmo com meu título de PHD em desgraças emocionais e dores no coração de tanto amar e de tanto cair do cavalo (que sempre chega sem o príncipe). Aquele abraço branco e tão cheio de paz diminuiu o inchaço, me enfeitou com flores e jogou minhas rolhas fora. E eu me vi entregue a ela, sem dores, sem rolhas e cheia de planos. Os mesmos planos que a mocinha do filme fazia com o mocinho do filme até a última cena, quando então vem o beijo da conciliação, da paixão e da ausência que até ali sufocava os dois e todas as pessoas que pagaram para ver o filme. Eu ali, entregue a uma felicidade normalmente tão distante. Virei sua parasita e nem liguei para as minhas rolhas que durante anos, taparam meus furos, meus buracos e meus medos sem deixar que tudo transbordasse poros e olhos afora e me matassem afogada nessa necessidade que não passa nunca há 18 encarnações. As rolhas que se fodam junto com toda a minha vocação e com a garrafa de vidro velha e sem rótulo, porque agora eu quero mais é ser feliz nessa felicidade colorida depois de todas as bebidinhas e os amores com gelos.
E eu que passei a vida até aqui sentindo por medo, sentindo por pena e sentindo por ódio, me encontro na felicidade de olhos azuis e com os cabelos que começam a "grisalhar". Eu, todas as minhas coleções, meus medos pavores e temores somos abduzidos pelos braços nem tão peludos mas fortes, sólidos e seguros.

Ainda não me acostumei com a felicidade plena. Porque ela é tão feliz que às vezes me irrita. Eu quero fugir mas ela me agarra, eu quero ir e ela me traz de volta porque ela é tão teimosa quanto eu e quanto minhas milhares de vocações inúteis. Viro daqui, viro de lá, tento desgarrar mas ela é forte demais para mim que estou sempre cansada porque nunca aprendi a dormir bem. Eu sou o caos e ela é a serenidade. Eu sou o tremor de terra e ela é o céu azul e as bolhas de sabão que fazia ainda criança achando que só estouravam quando encontravam com Deus.
A minha felicidade me agarra com as pernas, me joga na cama, me faz cócegas, me obriga a rir com suas piadas de quinta e insisti em me fazer perceber que o mundo é melhor sem valas, rolhas e lágrimas.
Me debato inutilmente porque ela, agora ele, me faz feliz. Me fodo emocionalmente mas ele sempre me coloca no eixo. Me esguelo intensamente mas de nada adianta nunca. Porque ele, esse homem que escolhi para pai dos meus filhos, me faz feliz. Irritantemente feliz. Mesmo quando insisto em querer sofrer e ser mau humorada, sim, ele me faz feliz. Insuportavelmente feliz.

2 Comentários:

Janaína disse...

Já disse que vc é ótima?

7 de agosto de 2009 às 13:37
Anônimo disse...

Eu descobri seu blog há poucos dias e me surpreendo sempre com sua emoção. Não há um texto em que eu não me emocione. Parabéns!

7 de agosto de 2009 às 14:06