27 de ago. de 2009

Rua Santo Anselmo.

É bem ali, naquela casa. Essa aqui é a Rua Santo Anselmo!
Sempre que entro na Santo Anselmo eu lembro do meu avô se escondendo atrás da cortina para eu procurá-lo e quando encontrava era arremessada para cima enquanto ele dizia o quanto me amava e me chamava de princesa. Eu sempre lembro de uma mega árvore que tínhamos no quintal e fazia uma sombra gostosa para aliviar o sol. Eu tenho a lembrança de ficar no redondo brincando escoltada por cachorros embaixo dessa árvore bem estilo sombra e água fresca. Se não me engano era um chorão. Nem sei se isso existe mas acho que era um. O portão era branco encardido e baixinho porque ainda não existia essa violência doida.
Me lembro também das casas abertas. Do lado direito da casa dos meus avós era casa dos meus tios e do lado esquerdo era casa de grandes amigos. E mais para baixo morava outra tia minha com filhos e papagaios numa casa linda. E tudo sempre aberto porque a gente ia e vinha muito. Todos os primos. Almoçávamos na casa de uma tia e tomávamos lanche na casa de outra tia. E todas elas sempre tinham bolos quentinhos e cafés gostosos e frutas picadas em cima de bandejinhas fofas. E me lembro também das rodas de baralho quase todo final de semana lá em casa. Enquanto minha avó tocava violão, meu pai ficava puto quando perdia no buraco e minha mãe fazia sala e servia todo mundo. Eu me lembro que o povo gostava de uma cachacinha e que era comum acordar com uns tios bêbados e perdidos dormindo no sofá da sala de manhã enquanto minha avó fazia café para tentar curar a ressaca dos embriagados.
Na casa da Tia Angioleta também era assim. Era todo mundo ali, reunido, falando alto e ela com a paciência natural de quem gosta mesmo é de casa cheia e família unida e feliz de verdade, não só para gravar o comercial. E o Tio Arthur, marido da Tia Angioleta sempre quieto, lendo, com o óculos apoiado na ponta do nariz, bigodes já brancos e falando de mansinho das técnicas oftalmológicas inovadoras de 1980 e confabulando com o Tio Orlando, que já estava bem doente, sobre onde aplicar seus ricos dinheirinhos. Minha avó tocava muito violão, era uma mulher moderna para a época apesar que, depois de velha, morria de vergonha quando via na TV um comercial de absorvente.

Na primeira transversal da Sto Anselmo, tem o clube Amigos do Jardim São Bento. Igualzinho até hoje, incrível. Tinha uma piscina gigante lá, fazíamos churrascos deliciosos e passamos muitos finais de semana e domingos familiares no clube. Porque a gente ia e voltava a pé porque nem era um bairro de muito movimento não. E toda semana a turma masculina do bairro e a turma masculina do clube (que na verdade era a mesma turma) jogava bola no campo que ainda existe também. Meu pai quebrou o braço uma vez, o Rubens o pé, mas o futebol era sagrado. Assim como a cervejinha de depois do futebol que também era sagrada.

Algumas ruas para baixo morava a Tia Lívia, e a turma do Seu Ibitinga, amigos e sempre solicitos e participativos nas coisas do desenvolvimento do bairro e das fofocas também.

A Rua Santo Anselmo era nossa. Hoje só tem a Tia Diana por ali. A vida mudou, mudamos também e fomos uns para longe dos outros. Geográfica e fisicamente. A família já não é unida. Nos vemos uma vez por ano no 25 de dezembro e olhe lá. A Rua Santo Anselmo era praticamente inteira nossa. Hoje são casas milionárias, pessoas com seguranças, tudo com muro e grades enormes e sem o charme de antigamente quando corríamos só de calcinha e cueca pelas ruas porque éramos crianças inocentes e felizes. Toda vez que venho aqui eu choro. Porque eu posso escutar os barulhos do Rodrigo brigando na rua, posso ver a Tia Diana chamando para casa dela e minha avó me mandando entrar porque era hora de tomar banho e eu tentando fugir e me escondendo na pseudo mercearia que meu avô mantinha na garagem de casa. Eu ainda lembro de tudo. Até dos desenhos do chão, dos azulejos e dos copos laranjas que a Tia Angioleta tinha e que na época eram super chiquérrimos e elegantes. Eu me lembro da bandeja de café, do som do violão e da Roberta me ensinando a fumar escondido porque senão ela tomava uma surra violenta e do telefone azul calcinha que tinha na casa da vovó.

A Rua Santo Anselmo não é mais nossa faz muito tempo. Mas nada vai me fazer esquecer das coisas tão lindas e tão exageradas. Toda vez que venho aqui é como voltar ao passado e saber que tivemos uma vida rara e livre. E toda vez que eu venho eu só choro porque eu morro de saudade da Rua Santo Anselmo.

4 Comentários:

Unknown disse...

Filha...também chorei de saudades..

Adorei lembrar desta fase das nossas vidas..É bom ter lembranças tão gostosas !!!
Significa que tudo valeu a pena, não é ??

Beijocas e te adoro muito, viu !!

27 de agosto de 2009 às 12:35
Dani disse...

Sempre presente no meu blog!
Seu blog é muito bem escrito, bons temas e idéias originais.
Valeu, continue acompanhando sempre.
Abraços,
Daniela

27 de agosto de 2009 às 13:41
Anônimo disse...

Que texto bonito e sutil! Deu para enxergar as cenas.

27 de agosto de 2009 às 17:07
Unknown disse...

Me deu saudades também dos domingos que frequentávamos lá e era um entra e sai de gente da nossa turma do Rio Branco que sempre apareciam porque sabiam serem bem-vindos, o Tuca, o Beto o Claudio com as respectivas namoradas...ai, ai....como passou depressa este tempo bom !!!

28 de agosto de 2009 às 16:02