1 de out. de 2009

Faltava tudo ou amigo de cu é rola.

Me faltava massa cinzenta para me livrar de você e das suas máscaras sempre mais sólidas do que a minha própria e vã existência sempre desconexa e confusa. Me faltava ter a segurança de que o mundo não acabaria em cima da minha desmiolada cabeça só porque podia ir embora. Me faltava linha de raciocínio e um corpo menos flácido cada vez que você chegava com essa cara de cachorro sem vergonha e faminto dizendo rimas deliciosas com essa voz rouca do inferno enquanto soltava no meio umas frases suas misturadas com uns ditos de Jobim. Faltava clareza quando eu entrava naquela merda daquele seu carro de riquinho e sentia o cheiro de homem elegante daquela merda de perfume de Free Shop que, para você não tem charme algum já que você vive ocupando seu tempo conhecendo o mundo. Me faltava sobriedade todas as noites quando você, mentindo deslavadamente, mandava torpedos sobre sua paixão eterna e a intensidade única que a gente experimentava cada vez que meu dedo indicador fazia aquele sinal de código morse que só a gente sabia o que significava. Faltava lógica quando você discursava sobre toda a exclusividade do mundo e de tudo que eu te causava internamente. Tão interno que ia da língua pro ânus direto. Sem escala. Tudo tão eterno e tão absolutamente externo.
Me faltava estômago para digerir todas as toneladas de bosta dura que você cagava para mim e me faltava vergonha toda vez que eu fingia que caía no seu conto sem graça nenhuma só porque me faltava também (e principalmente) inteligência e desapego daquela parceria tão fisicamente boa. Me faltava força para lutar contra aquilo que a gente sempre soube: foi só tesão. Me faltava a música certa para te esquecer porque só o que tocava no som da minha sala pequena e sem sofá era “Detalhes” do Rei. Me faltava coragem para admitir que aquilo tudo do começo ao fim era invenção da minha cabeça porque eu queria uma bóia de salvação e você era uma bóia muito da gostosa e que morava dentro de um puta iate. Me faltava ouvido para escutar o que o Maracanã e meio me diziam mas eu preferi bancar a surda muda porque eu queria mesmo era ser feliz sem ter razão alguma. Mesmo que eu soubesse a data do maldito fim quando você disse: “me sinto seu amigo”. Amigo? Amigo de cu é rola, camarada! Mesmo que eu soubesse que o começo foi como uma coceira de picada de pernilongo: coça, coça, coça, mas quando para de coçar acaba de vez. Me faltava o ar cada vez que você me dizia que daquela vez era sério e que você realmente me queria para todo sempre como declararia Vinícius à sua Tatiana. Mas me faltava pudor porque tudo em você sempre pulsou no meu ritmo louco e desesperado. E você era desesperado como eu para viver. Tão desesperado que me fez morrer em menos de 15 dias. Tudo isso. 15 dias. Porque me faltava. Me faltava tudo sempre e tanto. A única coisa que sobrava mesmo era você, meu amor por você e todos os meus restos.

3 Comentários:

Anônimo disse...

muito muito muito bom!
beijos
carol

1 de outubro de 2009 às 19:23
sonia disse...

Toda vez que eu venho eu gosto muito do seu blog! Cada texto lindo!

Beijos
sonia

2 de outubro de 2009 às 08:25
Anônimo disse...

Delíciaaaa de texto !!

Beijocas e um abraço de alma.

5 de outubro de 2009 às 16:51