17 de nov. de 2009

Os opostos que se atraem.

Na escola ele era da turma que entregava os trabalhos em dia, tirava boas notas porque tem uma inteligência irritante e todos os professores, coordenadores e bedéis adoravam ele. Porque ele gente, vocês não sabem. Ele tem um olho azul e uma gentileza que só vendo. E a alma dele cintila fazendo dele o cara mais incrível do mundo. Eu era da turma do fundão, que de vez em quando entregava os trabalhos e tirava notas ruins mesmo estudando porque as coisas da vida eram muitas e enfim não dava para prestar atenção em tudo. E os dois únicos professores que gostavam de mim eram aqueles que achavam minha enrolação charmosa e minhas ameaças de revolução uma coisa meio Che. Um deles era o professor de História. O outro era o de educação física. E achavam mais charmosa ainda uma bermuda sexy que de vez em quando eu usava porque eu tinha a bundinha que dava gosto. E os bedéis bom... os bedéis me manjavam muito porque era sempre eles que me recolhiam tentando fugir da aula em busca de coisas mais emocionantes do que a tal da Inconfidência Mineira.


Eu cabulava aula. Ele jamais fez isso. Alguns membros da minha turma já rolavam seus baseados. A turma dele enrolava, no máximo, a pipa. Eu era o mano, ele a mina. Eles se encontravam na casa de um deles sábados e seus pais todos se conheciam. Nós íamos ver o pôr do Sol na praça sei lá o quê depois de sair da balada. Ele passou no FCE e eu tomei pau no T4 daquela maldita Cultura Inglesa. Nunca esqueço que nesse dia minha mãe me chamou de vagabunda. Mas eu realmente não consegui acompanhar. Ele foi morar na Austrália. Eu saí de casa para ir da Rua Tupi para Rua Turiaçu. Ele fala um inglês absoluto. Eu peço dog hot ao invés de hot dog. Ele me explica coisas sobre o PIB e outro dia esclareci para ele o que era coxia. Ele ouvia Pearl Jam. Eu ouvia Chico mas venerava mesmo desde meu primeiro segundo de vida era Tom e Vinicius. Eles tinham onde ficar no Guarujá porque tinha uns playboys na turma deles. Eu quando ia para o Jogos Jurídicos dormia no carro com três amigas estranhas como eu para não gastar no hotel e sobrar para cachaça e talvez para balada que rolaria na outra semana. Ele super apaixonado e romântico. Eu super corna e achando que abafava na companhia dos piores elementos do colégio. Aqueles desgraçados que acham que abafam e abafam? E fica a ala feminina inteira da escola morrendo por eles com seus cabelinhos repicados para cima e suas poses de pseudo comedores de coxinhas de cantina.

Ele de camiseta hering embaixo da camisa de listrinhas azuis e eu de all star sem a palmilha porque eu odeio palmilha. Ele dançava com a menina mais bonita da escola no bailinho. Eu não era tirada para dançar porque acho que era debochada demais. Aliás, acho que fui convidada para uns três ou quatro bailinhos da turma dele, no máximo. Eu piscava para peão de obra e ria de chorar quando eles achavam que aquilo era sério. Minha mãe morria de vergonha. Ele não piscava assim como um cafajeste arreganhado qualquer. As meninas com quem ele andava usavam roupas com ombreiras e o sapato de bico fino sempre combinava com a bolsa pink. Elas dançavam em rodinha e cochichavam para falar do menino bonito. Ele sempre discreto e com pessoas discretas. Eu sempre esse furacão que vive ameaçando mas não tem coragem de carregar tudo para me obrigar a começar de novo e quem sabe talvez, sem traumas. Ele sempre pensando no futuro quando fez suas escolhas. Eu sempre pensando que futuro era longe demais e que até chegar eu já tinha caído nas graças de alguma figura que publicasse meus livros e minhas histórias mal resolvidas. Ele sempre tão contido e eu sempre tão maritaca com a voz aguda.
 
Certeza que foi por isso que me apaixonei por ele. Ele é tudo que eu nunca quis ser mas que eu sempre quis no homem que ia me salvar de mim.

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