3 de dez. de 2009

Querido Papai Noel,

Esse ano foi um ano de muitas coisas boas. Mas o melhor de tudo é que esse ano eu morri poucas vezes. É sério. E isso, Papai Noel convenhamos, é um progresso e tanto para as pessoas histericamente anormais e tão surreais como eu. Eu aprendi a morrer menos porque esse negócio de morrer de amor, de falta, de excesso, de raiva e de todos os outros motivos que sempre me fazem morrer, poxa, esse troço cansa. Dá azia, eu engordei, comi chocolate e ele saiu em forma de espinha na testa e minha vida só ficando ainda mais e mais caótica. Mas olha, pelo menos eu não morri. Cheguei bem perto mas nada definitivo. Foi quase tão definitivo quanto alguém ter um pouco de caráter. Chorar eu chorei, é óbvio. Eu continuo achando que chorar é charmoso e comove. Não que eu queira comover, Papai Noel, não é isso, veja bem.
O que eu quero mesmo é viver de um jeito que eu não precise tanto de aprovação. E pode ser num mundo onde ser bem resolvida seja pintinho mole e então aí eu aprenderei como tudo isso é fim de novela. Previsível e chato para cacete.
Mas eu chego em dezembro com a sensação de missão cumprida. Sempre de mau humor, eu sei, mas cumprida oras! Ano que vem eu serei mais bem humorada e tentarei, com a ajuda de florais milagrosos, ser uma pessoa menos irritada e menos urgente. Eu prometo. Então Papai Noel, como eu me comportei um pouco melhor e morri bem menos vezes porque estou aprendendo que viver é só um pouco mais que morrer por tudo, eu acho que mereço um recompensa. Eu também sei que não fui muito paciente mas é que, sabe Papai Noel, foi um ano difícil nos quesitos ansiedade e expectativa. E esse lance de ansiedade e expectativa faz perder a paciência para descarregar a frustração e não (aí sim) morrer de vez dura e seca. Eu também sei, meu bom velhinho, que eu tenho que parar de comer canto de unha só porque ninguém me descobre escrevendo coisas tão legais e que - pelo menos - todo mundo diz que adora. E também tenho urgentemente que parar de esperar por tudo como se esperar resolvesse alguma coisa. Portanto eu preciso deixar de ser uma pessoa acomodada, chata, mal resolvida, cri cri e também ciumenta e possessiva. Mas por outro lado eu enchi bem menos o saco do Renato esse ano e vez em quando ele sai para um chopp sem eu morrer de medo de ele se apaixonar pelo primeiro poste que atravessar bêbado na frente dele. Medo de morrer infartada no sofá esturricado e quase sem molas da nossa sala. Mas eu prometo. Ano que vem vou aprender a meditar num templo que tem perto de casa, o Senhor pode acreditar. E eu também juro que não vou colocar o fígado para fora em forma de decepção do mundo porque protestar assim é para os burros.

De qualquer forma e ainda assim, meu bom e amado velhinho, eu mereço uma recompensa. Nem que seja só pelo fato de estar sendo tão honesta.

Obrigada!
T,

1 Comentários:

Carla Martins disse...

Que legal o texto! Eu também tenho só que agradecer...porque não morri não, só de felicidade, de emoçõa, de amor correpondido e de realizações profissionais. E que 2010 seja, no mínimo, tão bom quanto foi 2009! :)

beijinhos e bom finde!

4 de dezembro de 2009 às 14:20