23 de abr. de 2010

Singular.

A gente nasceu para o plural e parece que só sabemos transitar pela vida se somos mais que um. Sozinhos parecemos sem ar, sem luz, sem saúde, a alma fica profundamente abatida e o corpo tenta se libertar da dor da singularidade dormindo.
Para as mais encardidas a solteirice é sinal de indignidade. Para as bem resolvidas é sinal de que só tem bosta dando sopa por aí. Tirando aquele carinha daquela festa. Que depois de bolinar ela inteira, disse que era gay mas que estava com tesão nela. Fazer o que? Ele não era bosta até contar a verdade.

A gente nasceu para ser junto, para ser dois e depois três, quatro, cinco. Haja dinheiro. E anca para abrir e pele para esticar.
Para os mais descolados a solteirice é sinal de pegação geral, de virilidade. Por que virilidade passou a ser só ficar ou não de pau duro, ter o ombro largo e o bíceps definido de um jeito que define o estar de qualquer mulher.

A gente nasceu para dividir, para dialogar, para ter alguém para pinico e para cobertor. Para aprender que a intimidade é quase um sopro de vento bom no verão insuportável e que a dois é coerente acender velas.
A gente nasceu para aprender a confiar no amor mesmo que o amor, nem sempre, se mostre um camarada confiável. Nem confiante.
A gente nasceu para fazer cenas de amor, de ciúmes, de cumplicidade, de impaciência, de inquietação, de paixão eterna. Só que a gente só faz cena se tem platéia. E é possível fazer espetáculo para um único pagante sem problemas. Nem traumas.  Desde que ele entenda a mensagem.

A gente nasceu para isso mesmo. Para achar que só dá para ser inteiro se somos dois.
Mas há momentos em que ser singular é a única forma de encontrar o recomeço.

1 Comentários:

Anônimo disse...

gggggg

2 de maio de 2010 às 10:50