5 de mai. de 2010

O medo da coragem.

Eu sempre fui muito corajosa. Até nos meus piores momentos, nos mais frágeis, nos mais sem razão, nos mais mesquinhos, eu sempre fui corajosa. Eu nasci corajosa para vida. Para tudo que ela podia me doar como esmola e para tudo de presente por merecimento, que ela podia embalar e mandar entregar na porta da minha casa.

Uma vez eu me envolvi com um homem casado. Aos 17 anos, me apaixonei por ele e o cara era irrevogavelmente louco pela mulher que tinha em casa. Corneava, mas amava. Corneava para provar para si mesmo o tempo todo o quanto ele era fodido. Inclusive quando ele cantava Jorge Ben ele era fodido. Eu sabia que ia me machucar, eu tinha certeza. O mundo me alertou e me pediu calma. E eu mandei o mundo se foder, fui lá e vivi até me machucar. Até a certeza virar fato. Até chorar como uma gansa, por oito meses, de tanta falta. De tanto vazio.

Aos 22 aos de idade larguei tudo. Emprego, vida social intensa e patrocinada sem grandes esforços, a convivência com meus enormes amigos. Larguei tudo porque minha velhinha ficou doente. E eu não podia ser feliz sem ela para rir de mim e dançar comigo no meio da sala. Larguei tudo e fui entender de câncer mesmo não suportando qualquer corte. E fui ser cuidadora. Quase 4 bem longos anos. O mundo me alertou, me pediu flexibilidade. E eu mandei o mundo se foder e me entoquei naquele meu grande momento de bastante rara generosidade. Eu tinha prometido para ela, eu ia com ela até o fim das contas. E fui. Apaguei a luz e fechei a porta.

Eu vivi grandes e pequenos amores, todos eles tão intensos que, em todos os finais eu quase sempre morria de agonia. Por ter acreditado tanto e por ter apostado todas as fazendas que eu nunca tive neles. E nos cheiros deles. Tudo, em mil tentativas inteiras, de ter bem mais para contar.
E em todas as coisas incríveis que eu vivi com todos eles, eu botei toda a fé que sempre me fez duvidar de uma série de existências.
Eu nunca tive calma com a vida, eu nasci para me desculpar porque eu sempre preferi errar. Eu sempre adorei recomeçar para passar a vida me provando que eu pude e eu posso tudo. Mesmo que até hoje eu não acredite nisso. Mesmo que algumas pessoas tentem me colocar para baixo. E mesmo que eu finja que, às vezes, elas conseguem.  

Eu sempre fui muito corajosa para viver.
Mesmo que no escuro do quarto, eu passasse grande parte do tempo chorando de medo da minha coragem de viver.

2 Comentários:

josé disse...

Leitura sempre muito agradável, Tatiana.

Abs
José

9 de maio de 2010 às 23:22
Primo disse...

Instigante...pra poucas e boas.
Parabens...

11 de maio de 2010 às 08:33