14 de jun. de 2009

Eu era tão dele...

E tão dele que chegava a me dar ódio. Eu tenho muito bode de mim mesma.
Eu era tão dele que minha alma parecia estar sendo sugada até que restasse apenas o suficiente prá eu sobreviver. Sobreviver de alma. Porque ar eu já não tinha. Eu nem sabia como eu não morria de tão dele que eu era. E era tão absurdamente grande que eu não sabia quem eu era. Eu sabia que eu era dele. E só. Que ódio! Eu era tão abusadamente dele que me anulei a tal ponto de quase morrer de auto-anulação automática.

Eu simplesmente não era nada. Eu podia sumir do mundo que ninguém notaria a minha insignificante falta. Porque ninguém sente falta do nada. Era isso que eu era. Dele e nada mais do que isso. Eu não teria uma morte. Eu teria um sumiço. Eu seria absorvida pela terra e viraria adubo.

Tudo em mim era dele. A cor do meu cabelo, o jeito de dizer bom dia... Meu jeito de andar, de vestir jeans rasgado, de colocar o rabo de cavalo dentro do boné, de posar, de sonhar. Era tudo o jeito dele. E o jeito dele era inexplicável. Porque todo cara como ele, que suga a gente pelo mais íntimo do íntimo, tem prazer nisso. Em te ver dele. E eu, sempre tão descolada e rebelde vivi no vão de tudo. Vivi na sombra, na deixa, no escanteio. Vivi à mercê. E fui feliz. Porque eu era feliz sendo dele. Eu era racionalmente infeliz e tinha um bode enorme de mim e isso me deixava ainda mais puta da vida, com vontade de colocar uma luva de box e me auto socar. Mas emocionalmente eu era muito, muito feliz. Meu pedaço racional me socava com toda a força do seu raciocínio. Mas meu pedaço coração me acariciava e permitia flutuar alto, vivendo de pouco empouco, de migalha em migalha,de valeta em valeta. Na ré, na contramão, o que eu queria era qualquer coisa. Qualquer uma meiga migalha me satisfazia. De tanto dele que eu era. E um dia, numa esquina que eu nem lembro qual era, eu esbarrei comigo mesma. E voltei prá mim. E vi que as migalhas eram muito pouco pro meu tamanho. Eu tinha muita fome. E quis todas as migalhas só pra mim.

E foi aí que deixei de ser o nada dele. E voltei prá mim com tanta paixão que todos os vãos foram preenchidos por auto amor.

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