27 de jun. de 2009

Eu diria...

Se eu pudesse te dizer algo hoje seria: não passa. Não passa nunca essa saudade. Eu penso muito em você. Muito mesmo. Quando vejo jogo do Corinthians, quando assisto a uma cena do Fagundes, quando olho pro Matheus e pra Bia. E quando passo um cafézinho fresco e tomo um golinho com um pedaço de bolo. E também quando como banana assada e quando vejo alguém promovendo a Herbalife. Eu penso muito em você.

Muitas coisas mudaram. Mas nem tanto assim. Tô aqui com dois filhos fresquinhos, um marido ótimo e parceiro prá tudo e meus amigos de sempre. Mas queria te dizer que não passa. Que eu lembro muito de você me colocando sentada atrás de livros e mais livros, que eu não esqueço de você grelhando bife e fazendo aquela mousse de chocolate que eu nunca mais comi em lugar nenhum. Aquela sim era a melhor do mundo. E também me lembro sempre de você sentada na sua poltrona verde, de óculos e com seu cigarrinho entre os dedos assistindo todas as novelas do mundo. Mesmo que na verdade, você estivesse dormindo sentada. E de como você era generosa com seus amigos e de como você sabia ser amiga como poucos e sobre toda sua sabedoria, sua experiência e sua paciência.

Eu cresci. Virei gente grande. Aliás, maior do que gostaria de ter ficado, ainda mais depois de dois filhos. Tenho minha casa, aprendi a cozinhar e casei. E aprendi a viver numa vibe diferente da que eu vivia antes. Aprendi sim. Aprendi a ser menos. Menos ansiosa, menos over. Só não perdi o hábito de fazer drama. Aprendi que viver contra o tempo só dificulta as coisas e que a paciência é sim a maior virtude do homem ainda que eu não tenha nenhuma. Mas não passa. E não passa porque você é muito muito presente. E eu acho incrível a minha capacidade de lembrar das coisas mais legais e de ter esquecido absolutamente as coisas chatas que aconteceram. Eu me lembro de tirar você prá dançar no meio da sala sem que nenhuma música nos embalasse, de comprar massa pronta de bolinho de chuva e dizer que eu que tinha feito só prá você ter orgulho do meu bolinho de chuva, de comprar suas latinhas de cerveja e de como você me amava tão intensamente. E de como você ria comigo e de mim. E de como você me achava criançona mesmo sabendo, bem lá no fundo, que eu já era uma mulher feita. E segura. E você me encarava com uma emoção tão infantil que chegava a emocionar. É por isso que não passa nunca. Eu tenho filhos, aprendi como é o tão famoso e falado e discutido amor de mãe. Você me amava filha e não neta. E amor de mãe é um troço que realmente não se explica.

A minha garganta sempre entorta na mesma hora em que os olhos lacrimejam. Não passa não. Mas tudo bem, a vida segue e segue muito bem, obrigada. Mas mesmo assim ainda dá uma dorzinha incômoda. Por que passar não passa nunca.

E quer saber? Eu acho bom que não passe que é prá eu não esquecer nunca de como éramos juntas.

3 Comentários:

Anônimo disse...

Seus textos me emocionam sempre.Que medo saber que um dia vou sentir o"não passa"....

1 de julho de 2009 às 11:15
Unknown disse...

Filha...

Tanto sentimento neste texto..Até sinto a dor desta ausencia que te incomoda..
Certamente que a reciproca deste amor incondicional, sempre foi verdadeira.
Mas saiba que são estas lembranças vividas que nos dizem que valeu a pena !!
Beijos

7 de julho de 2009 às 13:58
Unknown disse...

Tati,
Posso te disser não passa nunca...nunca nos esqueceremos dos bons momentos que passamos com pessoas queridas, dos abraços apertados, dos beijos. As pessoas morrem para o mundo, não para a gente que sempre vai sentir o tal nó na garganta e enxugar aquela maldita lágrima que insiste em escorrer pelo nosso rosto seja vendo um por do sol, aquele pão quentinho com mortadela que a pessoa tanto adorava...Isto não dá para esquecer e tem horas que dói... e dói tanto que é melhor fugir para não pensar... e sim só sonhar... o sonho vivido, acabado e lamentado.
Amor
Rose

24 de julho de 2009 às 19:42