23 de jul. de 2009

Numa tarde de segunda-feira.

Naquela tarde de segunda feira ela começou a trabalhar. E logo que chegou bateu o olho nele. E aquele olho de bandido arrepiou todinha ela que usava uma calça branca e um salto alto compondo com o decote da blusinha solta. Ah! o alto dos 20 e poucos anos! Tudo em dia, tudo durinho, lisinho, sem crateras e sem os sinais quase vitais da tão falada experiência. Peitinho, bundinha e disposição dos 20 e poucos anos. E aquele cabelo semi grisalho deixou-a transtornada. E todo aquele jeito de intelectual, e toda sua pose de descolado-bem humorado-cínico de quem faz terapia com uma psicóloga gostosa e sabida. Ela gelou. E tremeu também. E sentiu como se tivesse voltado para casa. Aquele corpo dele parecia a casa onde ela habitou por 3 ou 4 encarnações de tão conhecida. Barriguinha linda, pêlos na medida certa e aquela dose de macho besta e pornógrafo. E o jeito que ele falava, e os gestos da mão esquerda, (aliás que mão esquerda) e o jeito que ele usava o mouse do Mac, e as músicas detestáveis que ele ouvia enquanto trabalhava. E o jeito com que virava aquele pescoço grande para admirar a bunda dela dentro daquela calça branca e de qualquer outra calça. E o universo congelou para ela sentir aquele cheiro tão delicioso e para ver mais de perto que o jeans estava rasgado no joelho. E que joelho.

E ali começou, naquela tarde de sol, quando ela passou aquela porta e cruzou aqueles olhos. E ele adorando a paralisia dela cada vez que se esbarravam. E alimentando aquela vontade louca que ela tinha de enviar tudo pro inferno por email e se perder ali mesmo, naquela antiga nova casa. E naquela antiga nova relação. O jeito que ele cortava suas peças, o jeito que ele brigava, o jeito que ele tinha de fingir que tudo era nada e que nada era menos ainda. E todo aquele ar de gostoso que sabe que é gostoso, de low profile metido a besta e toda aquela petulância e toda sua curiosidade para ler e sacar e entender como se a conhecesse há 9 encarnações.

Ela passou meses se arrumando para o descarado que xavecava todo mundo, que alimentava todas as mulheres com suas frases de efeito idiotas. Ela tinha ódio de como ele era sexy até tirando meleca do nariz. Um nariz lindo e contornado. E falava de sacanagem com uma naturalidade charmosa e escrevia deliciosas sugestões de indecências discretas e intermináveis. E ela gostava tanto daquilo que perdia o rumo e o sono. E sonhava com os cabelos e com o Mac e com o jeito tão lindo quando ele estava compenetrado desenhando suas coisas ou comendo o rabo de meia agência porque as coisas tinham sempre que ser perfeitas. Perfeitas como aquele peito dele. Que ela nunca tinha visto, nem tocado nem cheirado. Mas que ela sabia que era perfeito. E perfeito também como aquele beijo dele e a pegada dele. A pegada que ela nunca sentiu, que ela nunca arrepiou.

Uma relação que nunca houve, que ficou nas conversas de corredor e nas caronas acidentais. Tudo não passou de um monte de desculpas que eles arrumaram para nunca se concretizar.

Era tudo tão perfeito no papel que na teoria podia frustrar. Os dois viveram meses tapando buracos escuros e fundos só por medo. E todo jeito descolado e o caralho era na verdade uma tentativa de esconder o óbvio. Dois medrosos o suficiente para fugir do que naquela hora era o melhor a se fazer: deitar numa cama e ficar ali, olhando pro teto embalados pelo silêncio bom, até que tudo acabasse e escorresse pelo ralo junto com toda espuma daquela banheira tão perfeita que eles também nunca usaram.

1 Comentários:

Unknown disse...

Nossa Tati, que texto lindo, parece com uma experiência que eu vivi há muitos anos atrás.....me deu até saudades e sinto aquele perfume até hoje.
Beijos querida.
Titia

24 de julho de 2009 às 19:06